O
pensamento filosófico busca desnudar a nossa compreensão sobre o mundo, como
forma de nos levar para além das aparências. Leva-nos a perceber que as coisas não são
simplesmente o que vemos. Há uma realidade que depende de certo esforço para
ser tocada.
Valorizar
essa capacidade de refletir sobre a vida e a sociedade é essencial atualmente.
O sistema capitalista selvagem em que vivemos nos programa a não pensar. Na infância,
tentamos nos compreender no mundo. É a fase dos porquês. Queremos saber a razão
e o funcionamento de tudo. Não temos medo de fazer perguntas que para o outro
possam parecer ridículas. Os anos iniciais na escola são provas disso. Mas
pouco a pouco somos levados a acreditar que tais questões não são importantes
nem necessárias, pois já existem respostas prontas para tudo. Cabe a nós
aceitarmos a norma e o padrão que a sociedade ou os deuses deixaram. Nos dias
de hoje, podemos dizer, aceitar o que os
meios de comunicação apontam como verdade.
A
questão é que não podemos ser humanos plenos enquanto vivermos dessa forma.
Talvez o que nos diferencie dos outros animais seja nossa capacidade de criar e
recriar a nossa relação com o outro e o mundo. Dessa forma, precisamos repensar
esse estar no mundo como algo não dado, mas que pode ser construído. Para isso
precisamos voltar a pensar e a perguntar.
Dizem os doutos que é
preciso aprender a pensar. Alguns
afirmam que esse deve ser o principal objetivo dos educadores. Concordo com a
importância do desenvolvimento dessa habilidade de reflexão para a existência
de seres mais cientes do seu estar no mundo, que possam reagir à apatia geral
diante do sistema ideológico massificante. Temos a ilusão de vivermos muito
informados, já que nunca se produziu tanta informação como hoje. Mas esse
excesso de informação pode até atrapalhar a formação do saber, já que o que se
valoriza é o acumulo e não a análise dos fatos.
Sabemos que o pensamento
gera um certo desconforto, pois nos leva a ver além das sombras que estamos
acostumados a compreender como a verdade. Pensar dói mais do que uma ferroada
de abelha. Causa mais instabilidade que o pular de um cavalo bravio. Pode gerar um mal-estar como uma pedrinha no
sapato. Entretanto, penso ser o caminho
para uma sociedade de seres mais autônomos e responsáveis por suas ações e
relações com o mundo. Seres que estabelecerão o seu próprio princípio de
felicidade e não se submeterão simplesmente ao mercado. Seres que deixarão de
ser "gado, marcado e feliz" como afirma a música "Admirável gado novo" de Zé Ramalho.
Márcio Ramos
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