Ao
contrário dos animais, cujo sentido da vida é dado geneticamente,
os seres humanos precisam construir um significado para a sua
trajetória no mundo. Uma aranha já nasce com a capacidade de tecer
teias e as abelhas não precisam ser ensinadas a fazer o mel. Além
disso, nenhuma das duas se pergunta se o que fazem é bom ou não.
Elas simplesmente fazem, e a determinação de fazer é inata, assim
como a capacidade para fazer.
O ser
humano, por outro lado, precisa escolher o caminho que quer trilhar
na vida. Segundo Ortega y Gasset: “Essa vida que nos é dada,
nos é dada vazia e o homem tem de ir enchendo-a, ocupando-a. As
nossas ocupações são isto. Tal não acontece com a pedra, a
planta, o animal. A eles é dado o seu ser já prefixado e
resolvido.” Ao homem, a natureza não dita o que tem que fazer.
Ele precisa escolher por si só.
Essa
escolha, no entanto, é amplamente influenciada pela vida social, de
forma que, em grande parte das vezes, o indivíduo acredita não ter
escolha. Entretanto, a circunstância de estarmos vivos no mundo não
nos impõe uma única ação, mas várias possibilidades. Até mesmo
a decisão de entregar a orientação das nossas vidas a outras
pessoas é uma escolha nossa e, portanto, o que vai acontecer a
partir daí é nossa responsabilidade.
Nos
tempos atuais, a principal forma de preencher a vida, adotada pelos
seres humanos, gira em torno dos valores materiais. O modelo de ser
humano que hoje prepondera é o Consumidor. Segundo esse modelo, o
sentido da vida humana está em obter cada vez mais dinheiro, para
consumir cada vez mais. Assim, desde que nascem, os indivíduos
aprendem a orientar as suas vidas pela busca do dinheiro, de forma a
acreditarem que esse é o único caminho possível.
Contudo,
apesar dessa aparente determinação social, o ser humano é livre
para escolher um outro caminho e, embora os modelos sociais apontem
todos para a busca de dinheiro, o ser humano é capaz de “ocupar”
a sua vida com outros valores.
A questão
material é importante no que se refere ao suprimento das nossas
necessidades. Ou seja, de fato o dinheiro é importante para que
tenhamos comida, abrigo e proteção, entretanto, ele não nos
realiza como seres humanos. Assim, quando orientamos nossa vida,
apenas pela busca do dinheiro e das possibilidades de consumir que
advêm dele, nos desvalorizamos enquanto seres humanos.
Para o
professor Jaílson de Souza e Silva, fundador do Observatório de
Favelas no Rio de Janeiro, o ser humano pleno tem 4 dimensões:
A 1ª
dimensão é a da singularidade: somos seres humano únicos, temos
uma história única e opiniões, gostos e dores próprios. A 2ª
dimensão é a do pertencimento: desde que nascemos somos inseridos
numa família que é o nosso primeiro grupo de pertencimento, a
partir daí a escola, a igreja, o time de futebol, etc. são aspectos
da existência que nos constituem como um ser social. A 3ª dimensão
é a do humano-genérico e a 4ª é a ecológico-global.
Entretanto,
a maioria de nós se relaciona apenas no âmbito das duas primeiras
dimensões e tende a desvalorizar o outro, o diferente, o que não
participa dos meus grupos. Assim, a morte de um parente ou de um
colega de classe é bastante comovente, mas a morte de um garoto, na
favela, não me toca em absoluto. Se nos mantemos apenas nessas duas
dimensões, aprendemos a desvalorizar a vida de outras pessoas.
Quando a
manchete de jornal diz que 11 bandidos foram mortos num confronto
entre policiais e traficantes, não lamentamos a morte desses
indivíduos porque o nosso senso “moral” diz que somos diferentes
deles, que somos superiores. Assim, os moradores das favelas
(tratados todos como bandidos) não são reconhecidos como seres
humanos.
Para que
aprendamos a olhar para todas as pessoas como seres humanos,
precisamos desenvolver a dimensão humano-genérica. Essa 3ª
dimensão proposta por Jaílson e nos ajuda a reconhecer a humanidade
que há em todos os homens. Ela nos conecta aos seres humanos pelo
que todos nós temos em comum: o fato de termos sido lançados no
mundo, sem manual de instrução e de termos que decidir a nossa vida
a cada minuto. Diante dessa constatação, os sofrimentos, os
problemas das nações atingidas pela guerra, das crianças órfãs,
dos velhos desvalidos, não nos são indiferentes.
A wikipédia define compaixão da seguinte forma:
Compaixão (do latim compassione) pode ser descrito como uma compreensão do estado emocional de outrem; não deve ser confundida com empatia. A compaixão frequentemente combina-se a um desejo de aliviar ou minorar o sofrimento de outro ser senciente, bem como demonstrar especial gentileza com aqueles que sofrem. A compaixão pode levar alguém a sentir empatia
pelo outro. A compaixão é frequentemente caracterizada através de
ações, na qual uma pessoa agindo com espírito de compaixão busca ajudar
aqueles pelos quais se compadece.
Daí a
importância da compaixão na realização da experiência humana. É
através da compaixão que sentimos como nossa, a dor dos outros
seres humanos. Essa dor compartilhada nos motiva a lutar por mais
justiça e mais oportunidades de bem-estar. Essa dor compartilhada é
que deveria ser o motor das ciências, das políticas das artes.
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