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DEPUTADO RENATO AZEREDO!!!


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terça-feira, 23 de outubro de 2012

Quanto vale a vida 2


                  Inspirados pela pergunta de Humberto Gessinger dos Engenheiros do Hawaí, os estudantes do 9ºC analisaram textos literários e dissertativos  que questionam o valor da vida humana. Em todos eles, o dinheiro apareceu como um determinante. Dessa forma, ficou claro que nem todas as vidas têm o mesmo valor, mas que esse valor é relativo.

                 

                Veja abaixo os textos utilizados:

                                  
O Bicho


Manuel Bandeira
Vi ontem um bicho 
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.



NOTÍCIA DE JORNAL
Fernando Sabino

                 Leio no jornal a notícia de que um homem morreu de fome. Um homem de cor branca, 30 anos presumíveis, pobremente vestido, morreu de fome, sem socorros, em pleno centro da cidade, permanecendo deitado na calçada durante 72 horas, para finalmente morrer de fome.
                 Morreu de fome. Depois de insistentes pedidos e comentários, uma ambulância do Pronto Socorro e uma radiopatrulha foram ao local, mas regressaram sem prestar auxílio ao homem, que acabou morrendo de fome.
                Um homem que morreu de fome. O comissário de plantão (um homem) afirmou que o caso (morrer de fome) era da alçada da Delegacia de Mendicância, especialista em homens que morrem de fome. E o homem morreu de fome.
                O corpo do homem que morreu de fome foi recolhido ao Instituto Anatômico sem ser identificado. Nada se sabe dele, senão que morreu de fome.
                Um homem morre de fome em plena rua, entre centenas de passantes. Um homem caído na rua. Um bêbado. Um vagabundo. Um mendigo, um anormal, um tarado, um pária, um marginal, um proscrito, um bicho, uma coisa - não é um homem. E os outros homens cumprem seu destino de passantes, que é o de passar. Durante setenta e duas horas todos passam, ao lado do homem que morre de fome, com um olhar de nojo, desdém, inquietação e até mesmo piedade, ou sem olhar nenhum. Passam, e o homem continua morrendo de fome, sozinho, isolado, perdido entre os homens, sem socorro e sem perdão.
                 Não é da alçada do comissário, nem do hospital, nem da rádio-patrulha, por que haveria de ser da minha alçada? Que é que eu tenho com isso? Deixa o homem morrer de fome.
                E o homem morre de fome. De trinta anos presumíveis. Pobremente vestido. Morreu de fome, diz o jornal. Louve-se a insistência dos comerciantes, que jamais morrerão de fome, pedindo providências às autoridades. As autoridades nada mais puderam fazer senão remover o corpo do homem. Deviam deixar que apodrecesse, para escarmento dos outros homens. Nada mais puderam fazer senão esperar que morresse de fome.
                E ontem, depois de setenta e duas horas de inanição, tombado em plena rua, no centro mais movimentado da cidade do Rio de Janeiro, Estado da Guanabara, um homem morreu de fome.




UMA CONCEPÇÃO DE SER HUMANO
Jaílson de Souza e Silva
Na realidade social brasileira, como no conjunto dos países ocidentais, a concepção de ser humano hegemônica é centrada na figura do consumidor. Nesse caso, valoriza-se (ou, mais significativo, naturaliza-se) a identificação entre o ser humano e o consumidor de bens distintivos. Assim, o ser mais valorizado socialmente é aquele que tem maior acesso aos bens considerados distintivos: imóveis, carros, diplomas, empregos mais sofisticados etc. No caso brasileiro, o acesso a esses bens têm um crivo racial, os autodenominados brancos têm uma condição de consumo de bens distintivos bem superior aos dos negros (pretos e pardos). Assim, um homem branco, morador de uma área nobre, com nível superior trabalhando em uma grande empresa multinacional e dono de um carro importado tem sua vida considerada mais importante do que a de um jovem negro, com baixa escolaridade, morador de uma favela, que gosta de funk e está desempregado. E a partir dessas hierarquizações do valor da vida vão sendo estabelecidas as políticas públicas, em particular a de segurança, a de investimentos em equipamentos culturais etc.
(texto adaptado)

O VALOR DO DINHEIRO E AS RELIGIÕES

                O dinheiro foi concebido para facilitar o comércio, intermediando a troca de mercadorias. O dinheiro em si não tem valor, apenas representa um valor que é avalizado pelo governo que dá as garantias de estado do valor escrito naquele papel moeda. Teoricamente, a qualquer momento um cidadão poderia apresentar seu papel moeda ao governo emissor e o trocaria por ouro em seu valor correspondente. Isso se chama lastro, que supõe-se que o governo tem em seu poder ouro suficiente para cobrir todo o montante de moedas emitidas por ele. Hoje é sabido que tais garantias são muito mais virtuais do que físicas, pois acredita-se que o país tenha capacidade de honrar esse compromisso baseado na condição de sua economia de maneira geral. O lastro do dinheiro é cada vez mais virtual e menos físico.
                Com isso, o dinheiro tornou-se um verdadeiro simulacro. Isto é, desvinculou-se daquilo que ele representava e assumiu um valor em si mesmo, como se aquele papel ou moeda tivessem de fato o valor nele impresso. A sociedade passou a ter uma fé inconsciente para crer nesse valor. No decorrer da história, o dinheiro passou a assumir cada vez mais uma posição divina, a representação física do deus da riqueza, a quem Jesus chamou de Mamon. Como deus, ele exige adoração e promete coisas que só Deus poderia poderia fazer. Embora ditas de maneira um tanto jocosas certas afirmações correspondem ao pensamento da maioria da pessoas, tais como “dinheiro não é problema, é solução”; dinheiro não traz felicidade, manda buscar”; “o dinheiro compra tudo”; “rico nunca vai preso”; “rico é que é feliz”; etc. Ditas com tanta frequência, passam fazer parte do inconsciente coletivo e, como um conjunto de crenças, determinam  o estilo de vida da sociedade.
                É tão forte o serviçalismo que as pessoas prestam ao dinheiro que até mesmo no ambiente eclesiástico as coisas funcionam a partir dele. É muito deprimente ver pregadores na mídia fazendo apelos emocionais suplicando ajuda financeira ao público dando a impressão que Deus está mendigando, como que se também ele, o único legítimo e verdadeiro dono do ouro, da prata e de todas as coisas, também dependesse de Mamon. A impressão que se tem é que Deus se tornou refém do sistema financeiro.

Disponível em: http://www.gruponews.com.br/2009/12/o-valor-do-dinheiro.html acesso 17/10/12       

    EU ETIQUETA

Em minha calça está grudado um nome 
Que não é meu de batismo ou de cartório 
Um nome... estranho. 
Meu blusão traz lembrete de bebida 
Que jamais pus na boca, nessa vida, 
Em minha camiseta, a marca de cigarro 
Que não fumo, até hoje não fumei. 
Minhas meias falam de produtos 
Que nunca experimentei 
Mas são comunicados a meus pés. 
Meu tênis é proclama colorido 
De alguma coisa não provada 
Por este provador de longa idade. 
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro, 
Minha gravata e cinto e escova e pente, 
Meu copo, minha xícara, 
Minha toalha de banho e sabonete, 
Meu isso, meu aquilo. 
Desde a cabeça ao bico dos sapatos, 
São mensagens, 
Letras falantes, 
Gritos visuais, 
Ordens de uso, abuso, reincidências. 
Costume, hábito, permência, 
Indispensabilidade, 
E fazem de mim homem-anúncio itinerante, 
Escravo da matéria anunciada. 
Estou, estou na moda. 
É duro andar na moda, ainda que a moda 
Seja negar minha identidade, 
Trocá-la por mil, açambarcando 
Todas as marcas registradas, 
Todos os logotipos do mercado. 
Com que inocência demito-me de ser 
Eu que antes era e me sabia 
Tão diverso de outros, tão mim mesmo, 
Ser pensante sentinte e solitário 
Com outros seres diversos e conscientes 
De sua humana, invencível condição. 
Agora sou anúncio 
Ora vulgar ora bizarro. 
Em língua nacional ou em qualquer língua 
(Qualquer principalmente.) 
E nisto me comparo, tiro glória 
De minha anulação. 
Não sou - vê lá - anúncio contratado. 
Eu é que mimosamente pago 
Para anunciar, para vender 
Em bares festas praias pérgulas piscinas, 
E bem à vista exibo esta etiqueta 
Global no corpo que desiste 
De ser veste e sandália de uma essência 
Tão viva, independente, 
Que moda ou suborno algum a compromete. 
Onde terei jogado fora 
Meu gosto e capacidade de escolher, 
Minhas idiossincrasias tão pessoais, 
Tão minhas que no rosto se espelhavam 
E cada gesto, cada olhar 
Cada vinco da roupa 
Sou gravado de forma universal, 
Saio da estamparia, não de casa, 
Da vitrine me tiram, recolocam, 
Objeto pulsante mas objeto 
Que se oferece como signo dos outros 
Objetos estáticos, tarifados. 
Por me ostentar assim, tão orgulhoso 
De ser não eu, mas artigo industrial, 
Peço que meu nome retifiquem. 
Já não me convém o título de homem. 
Meu nome novo é Coisa. 
Eu sou a Coisa, coisamente.

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