AMOR

    Com o objetivo de ajudar a construir um projeto de vida em que o valor do dinheiro não prevaleça sobre as relações pessoais, apresentamos, aos alunos do 9ºC, alguns tipos de realização humana que parecem prescindir (não necessitar) da mediação do dinheiro. Para isso, selecionamos um pequeno trecho da autobiografia de Bertrand Russel, que foi um importante filósofo do século XX:

"Três paixões, simples mas avassaladoras, me dominaram a vida: o desejo de amor, a busca do saber e uma lancinante compaixão pelo sofrimento humano. "

     Assim, para Russel, amor, conhecimento e compaixão estão na base da realização da vida humana e merecem uma reflexão mais aprofundada. 

      Desta forma, dedicamos esse encontro (dia 26/10/2012) e os  próximos  à discussão desses três temas, começando pelo amor.

      O amor, tal qual o conhecemos hoje em dia, é uma invenção relativamente recente. Até por volta do século XII, essa ideia ainda não existia, e é somente a partir do século XX que ele começa a determinar as uniões conjugais. Entretanto, a discussão sobre esse sentimento remota a filosofia clássica. Os gregos concebiam três tipos de amor:

Eros

Esse talvez seja o tipo mais próximo do amor romântico, muito comum nos nossos dias. Está relacionado à falta, ao sofrimento. Dessa forma, as pessoas procurariam em uma outra do sexo oposto (ou do mesmo sexo, nas relações homossexuais) a "cura" para o desamparo essencial que nos acompanha desde o nascimento. Como é impossível se curar do "trauma" do nascimento, o amor romântico se constitui como aquele que nunca alcança a realização. 

Philia

Esse tipo de amor está relacionado ao desejo de partilhar a presença do outro. A melhor expressão desse amor é a amizade. Na amizade, as pessoas procuram estar juntas pelo prazer da companhia um do outro. Não pressupõe sofrimento como o amor romântico, entretanto, é um tipo de amor que não possui muito prestígio na contemporaneidade.

Caritas ou Ágape

Esse tipo de amor está atrelado ao bem do outro, muito próximo do humanismo cristão: "amar ao próximo". Esse amor não especifica o objeto amado, sendo estendido a toda a humanidade.

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     A história de um amor não correspondido ou impossibilitado de se realizar, por impedimentos externos aos dois amantes, é a tônica de quase toda a literatura ocidental. De fato o amor parece constituir-se na impossibilidade. O poema "A quadrilha" de Carlos Drummond de Andrade é um belo exemplo dessa característica: 

João amava Teresa que amava Raimundo 

que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili 

que não amava ninguém. 

João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, 

Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, 

Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes 

que não tinha entrado na história.

    No poema, a única pessoa que conseguiu se casar foi Lili,  "que não amava ninguém", além disso, o fato de ela ter se casado com um sujeito chamado J. Pinto Fernandes, sugere um casamento por interesse. Ela se uniu ao sobrenome de uma família provavelmente rica. 

     Da mesma forma, na amizade, por mais que apreciemos algumas pessoas, são os interesses práticos como: trabalho, estudo e vizinhança que determinam as nossas companhias. Assim, passamos muito mais tempo com colegas de trabalho de estudo ou vizinhos do que com as pessoas que apreciamos, de verdade.

    Até mesmo no tipo de amor cristão, os interesses financeiros interferem. Grande parte das igrejas que se dizem cristãs, prometem a seus fiéis alguns benefícios materiais, ou até mesmo espirituais, em troca de lealdade e de contribuições recorrentes.

       Diante desse quadro, como estabelecer uma relação amorosa em que a essência das pessoas (o que elas são de fato), suas peculiaridades, sejam valorizados ao invés do status social que possuem? Como valorizar as características próprias de cada ser humano em vez de pensar no retorno social que as relações amorosas ou de amizade podem trazer? Dê a sua opinião!